Feminicídio no Brasil: 5 dados que todos precisam conhecer
O feminicídio segue crescendo no Brasil e revela padrões claros de risco. Conheça os dados essenciais.
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O feminicídio no Brasil não é apenas uma estatística trágica. É um retrato implacável da forma como mulheres seguem vulneráveis em seus próprios lares, cidades e trajetos. Nos últimos anos, os números cresceram ao mesmo tempo em que denúncias ficaram mais precisas, e isso permite enxergar o cenário real com menos ruído e mais nitidez.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, o Brasil registrou 1.463 feminicídios em 2023, o maior número desde que o crime foi tipificado em 2015. Esse aumento de 2,6% em relação ao ano anterior não se explica apenas por maior notificação. Há mudança estrutural na forma como a violência letal contra mulheres vem se concentrando: dentro de casa, por parceiros íntimos ou ex-companheiros.
1. O horário do crime revela padrões de risco invisíveis
A maior parte dos feminicídios ocorre entre 18h e 23h, faixa identificada a partir da análise dos boletins consolidados pelas Secretarias de Segurança estaduais e compilada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Essa tendência aparece ano após ano no Anuário do FBSP, indicando que os momentos de maior risco são justamente os que coincidem com retorno do trabalho, deslocamentos noturnos e rotina doméstica. Infelizmente isso não quer dizer que os outros horários sejam seguros. Casos como o da Catarina, em Florianópolis, demonstram que mulheres desacompanhadas podem estar em risco a qualquer hora do dia.
2. O agressor normalmente não é um desconhecido
Em 7 de cada 10 casos, o assassino é um parceiro atual ou um ex. A letalidade íntima continua sendo o centro gravitacional do feminicídio no país, o que exige políticas que integrem delegacias especializadas, monitoramento e acolhimento de mulheres e filhos em situação de risco.
3. Estados com maior taxa não são sempre os mais violentos
Mato Grosso lidera o ranking proporcional de feminicídios no Brasil com 3,4 mortes por 100 mil mulheres, seguido de Rondônia (3,1) e Acre (2,9). Esse trio revela um padrão estrutural: territórios extensos e muitas zonas rurais, baixa densidade urbana, serviços públicos rarefeitos, monitoramento ineficaz de agressores reincidentes e uma rede de proteção que simplesmente não alcança quem mais precisa.
4. O perfil das vítimas mostra vulnerabilidade acumulada
Embora o Anuário do FBSP 2024 registre que 62% das vítimas de feminicídio são mulheres negras, um índice que permanece praticamente estável na última década, a literatura sobre violência de gênero mostra que esse recorte racial quase sempre se cruza com variáveis socioeconômicas. Estudos complementares do IPEA, IBGE e do próprio FBSP indicam que mulheres negras estão desproporcionalmente concentradas em faixas de menor renda, maior informalidade laboral, menor acesso a serviços públicos e maior exposição a territórios com infraestrutura precária, fatores que ampliam o risco letal independentemente da raça isoladamente.
5. O risco após o rompimento é o maior de todos
Estudos de violência doméstica mostram que o risco letal aumenta de forma significativa nos primeiros 30 a 90 dias após o rompimento, especialmente quando já havia histórico de agressões. A criminologia denomina esse fenômeno de “retaliação pós-separação”, que descreve a escalada de violência motivada pela perda de controle do agressor sobre a vítima. Pesquisas apontam que o primeiro mês é particularmente crítico e que até os três primeiros meses seguem sendo o intervalo de maior probabilidade de feminicídio. Passado esse período, o risco tende a diminuir gradualmente, embora nunca se torne inexistente quando há histórico de violência grave.
A Cuida de Mim nasceu para enfrentar justamente esse ponto cego entre risco e proteção, onde tantas mulheres ainda ficam desamparadas. Nosso compromisso é ampliar o acesso a mecanismos de cuidado, agir antes da violência, reduzir o tempo de resposta e fortalecer redes de apoio. Queremos trabalhar lado a lado com prefeituras, secretarias e organizações locais para implementar monitoramento especializado nos trajetos mais vulneráveis, oferecer acompanhamento para mulheres com medidas protetivas, produzir dados anonimizados que ajudem governos a entender padrões de risco e criar políticas mais eficazes. Nosso objetivo é simples e profundo: que nenhuma mulher precise caminhar sozinha. Transformar esses números exige ação contínua, presença humana e uma rede de cuidado que comece no trajeto e se estenda até a política pública. É isso que a Cuida de Mim quer construir.